sexta-feira, 18 de junho de 2010

Grita







Grita




Amor, quando chegares à minha fonte distante, cuida para que não me morda tua voz de ilusão: que minha dor obscura não morra nas tuas asas, nem se me afogue a voz em tua garganta de ouro.
Quando chegares, Amor à minha fonte distante, sê chuva que estiola, sê baixio que rompe.
Desfaz, Amor, o ritmo destas águas tranquilas: sabe ser a dor que estremece e que sofre, sabe ser a angústia que se grita e retorce.
Não me dês o olvido. Não me dês a ilusão. Porque todas as folhas que na terra caíram me deixaram de ouro aceso o coração.
Quando chegares, Amor à minha fonte distante, desvia-me as vertentes, aperta-me as entranhas.
E uma destas tardes - Amor de mãos cruéis -, ajoelhado, eu te darei graças.


Pablo Neruda, in "Crepusculário" Tradução de Rui Lage

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